Escrita de outrora - Confissão
25 Ago 202431 de Outubro
Olá,
Faz tempo que não nos vemos, muito tempo mesmo. Você pode não se lembrar de mim, não tem problema, sei que não sou uma pessoa muito marcante. Talvez seja até uma grande surpresa a chegada desse texto, o que é mais provável.
Se essa página for declarada campeã vai ser, provavelmente, a vigésima carta que tento escrever, não posso dar certeza porque já perdi a conta, se minha mãe não recolheu algum papel do chão é a vigésima. Acho que desde a primeira vez que falei com você esta é a minha tarefa mais complicada, me fogem as palavras.
Não sou mais o mesmo tímido que era antes, apesar de ainda carregar isso comigo, só não sou muito bom com palavras, sempre fui melhor ouvinte do que locutor. Até que, no papel, as coisas são mais fáceis, com certeza que se, um dia, esbarrar com você na rua só conseguirei sorrir e dizer oi, além de ficar vermelho como um tomate.
Possivelmente esse seria o dia mais feliz da minha vida desde o ensino médio. Eu sei que é meio deprimente, na verdade, muito deprimente, mas é que não tive muitas experiências de vida, minhas baladas foram leituras de Freud acompanhadas de um bom chocolate quente.
Escrevo tudo isso para poder me confessar, apesar da longa introdução é para isso que esta carta serve, me livrar de um fantasma. Inúmeras foram às vezes que ensaiei, pedi ajuda a algumas pessoas e criei esperanças, sem que chegasse ao ato, falta de coragem, por isso, inclusive, que faço isso através de uma carta.
Acho engraçado que esse meu martírio de dias começou com uma foto. Revirava meus armários na tentativa de abrir espaço para ternos. É, agora tenho de usar ternos, requisito do trabalho. Em uma caixa escondida estava todas as fotos da turma da antiga escola, da quinta à oitava série, exatamente o tempo em que estudamos juntos.
Aquilo foi extremamente forte pra mim, foi como viver todo aquele tempo de novo, eu senti novamente aquela maravilhosa dor, sentimento do qual senti tanta falta e, ao mesmo tempo, desejei perder. Ainda não consegui me separar das fotos, estão a minha frente, espalhadas em minha escrivaninha.
Pena que nunca tive coragem de tirar uma foto ao seu lado, este é um dos meus maiores arrependimentos. Não resisti e fui atrás do pessoal na internet, mas não tenho seu e-mail. Consegui achar algumas páginas de sites sociais suas, inclusive um fotoblog.
Vendo esse fotoblog que foi o ápice, ao ver que sua vida está bem, você está bem e os seus olhos continuam com uma beleza sobre-humana, cheios de vida e brilho. Não consegui afastar do meu peito isso que me tortura.
É na tentativa de afastar meu carrasco que lhe escrevo. Quero ver se me livrando do meu maior arrependimento eu consigo por a cabeça na cama e voltar a dormir sem sonhar com você e como a minha vida poderia ter sido se, naquela época, tivesse tido coragem para enfrentar a verdade.
Por favor, não se assuste, eu não sou um perseguidor ou alguém que passou a vida fissurado. Como falei foram as fotos que fizeram com que tudo isso voltasse ao meu coração. Fazia cerca de quatro anos que não sofria deste jeito, desde aquela festa junina, aquela que você não se lembrará.
Escolhi este dia porque era uma data que você realmente gostava, espero que ainda mantenha essa paixão. Foi uma grande inspiração. Parando para tentar lembrar o porquê da afeição com esta data que lembrei tudo que foste para mim.
Já deixei claro o que me levou a isso, eu acho. Só que nunca serei capaz de completamente dizer o que sinto, isso é uma das poucas coisas que tenho certeza. Vou tentar finalizar logo, meu peito não vai aguentar muito tempo, já está muito apertado, meu coração pede clemência.
Fui apaixonado por você. Essa frase é até estranha aos meus olhos, meu coração grita aos sete ventos essa verdade, mas meu cérebro não consegue concordar, não tenho como dizer isso porque nunca mais gostei de alguém como gostava de você, acho que não sei o que é amor.
Atenciosamente, Um sofredor.
Igor Castañeda Ferreira