Escrita de outrora - Homesick

15/08/2011 - Homesick

Aqui faz muito frio. Muito mais do que eu imaginava. Saí para buscar lenha hoje cedo e mal consegui atravessar a rua sem que meu nariz congelasse. É algo anormal.

As crianças entraram de férias ontem. As ruas estão felizes agora. Um pouco de cor corre entre o branco e cinza. Parece que não vejo o sol há meses. É muito bom poder acompanhar tanta alegria através de minha janela, com um copo de chocolate quente nas mãos.

Apesar de só nevar no fim do dia, venta muito. Muitas foram as vezes em que precisei sair de casa com vários casacos, cachecol, gorro e luvas. Tudo isso para me proteger desse ar cortante de inverno. Os meus colegas ficaram me satirizando por muito tempo. É estranho vestir tanta roupa assim.

Ano passado eu estava aí, na praia. Outro mundo, que agora venero e desejo. Sinto muita falta desse calor dos infernos. Meus vizinhos falam que não está tão frio assim e que em julho faz muito calor. É triste, parece que vou ter de usar blusa até no verão.

Agora um monte de gnomos estão jogando bolas de neve na minha janela. Estou com vontade de me juntar a eles e realizar aquele sonho de infância, mas fico com preguiça de ir lá fora. É um momento mito dúbio este que vivo.

Alcancei um momento onde qualquer coisa me faz lembrar de casa. Uma árvore que se parece com aquele em frente de casa. A música que sempre nas rádios daí. Cheiro de feijoada baiana… É incrível a mente começa pregar peças quando temos saudade.

Algumas noites atrás eu sonhei que desembarcava na cidade, abraçava você, meus pais e meus irmãos. Foi tão real. Fiquei bem triste quando percebi que ainda estava nessa cama vazia. Estou sentindo muito sua falta. É normal para mim me pegar pensando em nossos passeios no parque.

Acho que você amaria estar aqui. Tem muitas árvores. Tudo é calmo. A casa é bonita e as pessoas são simpáticas. É um ótimo lugar para se estar e morar, quando se tem alguém para dividir as refeições.

Ainda estou com aquela corrente que você me deu. Não tive coragem de tirar. Esteve comigo todo esse tempo e me deu muita sorte. Espero que esteja torcendo por mim, rezando por mim, lembrando de mim… É o que me faz querer ir trabalhar de manhã, em vez de rumar para o aeroporto.

Amanhã vou à cidade vizinha para visitar um cliente em potencial. Meu chefe arranjou um carro para nós e falou que irei dirigi-lo. Imagina emoção de cruzar estradas desconhecidas. É um trote para os “recém-exportados” (como eles chamam por aqui): levar o chefe, sem mapa e sem celular.

Até parece um filme de terror brega. Só que sem a mocinha para salvar e sem o mocinho querendo aparecer. Só um carro rumado na neve rumo e sem comunicação. O pacote completo da solidão. É, realmente, um bom trote.

Atrás dessa carta vai uma foto com um cachorro que encontrei pela vizinhança. Meu mais novo companheiro de estadia. Ele é lindo. Pode ser que, talvez, leve-o comigo. Ver se o pequeno suporta calor com tanto pelo. É… Acho que é tudo por hoje.

Abraços,
Igor Castañeda Ferreira