ADHD de cada dia

Fui motivado a escrever esse texto por 3 motivos:

  1. É algo que me incomoda no momento.
  2. Um post sobre a importância que deve ser dada à depressão.
  3. E tweets:


Gostaria de começar esse texto relatando que a pior sensação do mundo é a raiva misturada à decepção de perder uma briga contra você mesmo!

Doenças mentais, mesmo hoje, ainda precisam ser aceitadas e entendidas pelas pessoas. Muitos mitos, preconceitos e descrenças acontecem em torno desse problema real, fazendo com que quem sofre se esconda ou não aceite o diagnóstico, usando termos como “é só uma fase” de muleta para seguir a vida.

Eu tenho ADHD-PI. E, sim, diagnosticado, precisando de medicação e tudo mais! Não, não é fase e não falo isso porque é “famoso” ter alguma doença hoje em dia! E, não, não é uma simples desculpa!

Quem assiste “The Big Bang Theory” não entende o quão sofrível é ter OCD, ser incapaz de falar com outra pessoa ou déficit de atenção. Não é essa coisa bonita e engraçada que é representada na série. Especialmente porque, em muitos casos, o problema não vem sozinho e, ao longo do tempo, acaba ganhando novas complicações.

Para ser mais “realista”, vou reportar o que sei/vivi e tentar colocar no cenário de tecnologia (o que vivo diariamente):

ADHD é uma doença caracterizada por inatenção e impulsividade. Desde 2000 é caracterizada em 3 três tipos, sendo eles: Predominante inatenção (ADHD-PI), predominante hiperatividade e, a pior, sem predominância.

Ela é, geralmente, diagnosticada ainda na infância, tanto que o site da NHS (sistema público de saúde britânico) representa como uma doença infantil, colocando apenas uma nota de como adultos podem sobreviver com a doença. Com isso, o preconceito de que crianças são naturalmente ativas e desatentas faz com que pessoas não sejam diagnosticadas corretamente, aumenta a negação e gera adultos que sofrem diariamente sem ter uma ideia real da causa.

Nas crises, o dia-a-dia de quem sofre ou convive com essa doença não é fácil:

  • Roupas sujas se acumulam, não por preguiça ou desleixo, mas pelo simples fato de lavá-las é uma atividade repetitiva. Inclusive, há ocasiões onde a pessoa abre a máquina de lavar, coloca metade das roupas e esquece de terminar o que estava fazendo.
  • Prato com comida, deixado de lado para esfriar.
  • Ferro de passar roupa esquecido ligado, assim como fogão, forno, etc.
  • Bifes queimados disparando alarme de incêndio com sua fumaça.
  • Portas de casa/apartamento/carro/empresa destrancadas depois que a pessoa sai.
  • Chaves largadas na porta ou dentro do carro.
  • Mochilas, carteira e blusas largadas dentro de ônibus/trem/restaurante.
  • Medicamentos abertos e não consulmidos.
  • Dificuldade em lembrar nomes e datas em certos momentos.
  • Dificuldade em manter uma conversa superficial.
  • Ter de ver/ler várias vezes um livro, filme ou ouvir um podcast para poder absorver um conteúdo.

Recomenda-se que uma pessoa com ADHD muito forte, em momentos de crise, não fique sozinha e procure alguém que possa ajudá-la a lembrar da medicação e protegê-la de coisas rotineiras, como fazer um almoço ou janta e crie rotinas para poder aprender algo ou realizar alguma tarefa.

E não é só a vida pessoal que é atrapalhada, a vida profissional é altamente impactada, em momentos de crise e até em momentos “normais”. A pessoa passa a ser vista como desleixada por causa dos grandes momentos de procrastinação, atividades inacabas, reuniões perdidas e bugs simples deixados no código.

No texto linkado em um dos tweets que coloquei no começo, é mensionado a síndrome do impostor, um pensamento que é constante na vida dos que lutam contra o ADHD, pelo simples fato de que não importa quão competente a pessoa seja, ela vai atrasar entregas, deixar pequenos erros passarem despercebidos e ser incapaz de finalizar projetos, especialmente projetos pessoais onde a gerência é 100% individual.

Um exemplo: Na tentativa de melhorar uma funcionalidade de um app onde trabalho, decidi estudar e implementar um sistema básico de machine learning para encadear e balancear operações em imagens usando OpenGL, uma ideia excitante e complicada. Mas, o projeto acabou não sendo finalizado ainda, porque, após ter 98% do algoritmo pronto e testado, restou apenas a criação de um processo de escolhas de quadriláteros. Apesar disso ser uma das partes mais simples do sistema, é uma tarefa repetitiva e, portanto, algo ABSURDAMENTE difícil, para mim, finalizar!

E é aí que outros problemas surgem, como depressão e ansiedade.

Talvez você já tenha visto uma pessoa assim, aquela que tem o carma do ⌘+Tab (ou Alt+Tab para os não Mac). Sempre trocando de aplicativos sem parar em nenhum, acessando uma página que ele acabou de sair e constantemente day dreaming e (um parâmetro bem difícil de identificar na área de tecnologia) constantemente tomando café ou algo com cafeina, já que esse componente químico ajuda a balancear os hormônios e dar um pouco mais de equilíbrio.

O ambiente coorporativo espera que a pessoa seja sociável, mesmo que isso seja absurdamente difícil para ela. Temos reuniões constantes, escritórios compartilhados, mesa de pimbolim e diversos outros elementos que dificultam a concentração. Um artigo no site Gamasutra fala sobre como um programador é afetado por interrupções e, acredite, isso é o maior problema que temos de enfrentar!

Agora volto à frase que coloquei no começo do texto, é horrível ter de, diariamente, lutar contra você mesmo e, muitas vezes, perder! Não é algo engraçado ou que se fale alegremente para os amigos para justificar uma ação banal! E é algo que as empresas e as pessoas não estão prontas para entender e aceitar que, assim como cadeiras de rodas, é algo que afeta a pessoa, a limita e precisa ser considerado no dia-a-dia.

Afinal, ao acordar, sabemos que teremos de enfrentar a ADHD de cada dia.

Quick thought - Language

Mais um quick thought: Em que língua deveria postar meus conteúdos?

Essa é uma dúvida que me bate toda vez que eu abro um novo arquivo de postagem, ou até mesmo o Twitter. Em que idioma eu devo escrever minha opinião?

Eu acredito que a comunidade brasileira precisa de mais conteúdo em português! Principalmente na área de tecnologia. Mas, a minha realidade não é só Brasil.

Mas, no Twitter, tenho seguidores que falam os mais diversos idiomas e a maioria fala ou entende inglês. Meus colegas de trabalho, inclusive, falam inglês.

Aí fico com essa dúvida: Em qual idioma postar? Não só opinião técnica, mas coisas do meu dia-a-dia. Não quero me afastar de minha terra natal e amigos, mas sinto que perco interação com pessoas ao postar apenas em português.

Quick thought - WWDC/Alt 2016

Mais uma vez eu fui para San Francisco, participar (inicialmente) da AltConf. Esse ano foi um tanto diferente: Além do vôo de 12 horas direto, rever os colegas/amigos brazucas foi diferente e viajei com vários colegas de trabalho. Foi uma experiência diferente das prévias viagens para SF.

Como sempre, as conferências conseguiram fazer com que eu odia-se minha personalidade! Eu sou absurdamente introvertido e, portanto, não aproveita 100% das oportunidades que me são dadas para construir novas amizades/contatos. E, no fim do dia, fico com aquela sensação de que não me dedico/estudo como deveria, sendo apenas medíocre em minha carreira.

Mas, este texto sendo publicado demonstra o outro lado das conferências: Me motiva a questionar e produzir. Tentar entender onde eu erro e procurar a melhor forma de resolver isso.

Eu fui/fiquei mais na WWDC e rondando a cidade do que na Alt. Assim, perdi algumas palestras muito boas, que terei de ver online quando os vídeos estiverem online.

Entretanto, eu tive a oportunidade de conversar com alguns engenheiros da Apple sobre problemas/implementações que eu estou fazendo no meu dia-a-dia e me acalmar ao saber que os problemas que estou enfrentando são referentes à bugs nas APIs e não no meu código.

Eu saí dos USA com o pensamento de que foi uma ótima e proveitosa semana, mas, ao mesmo tempo, com a sensação de que não foi uma semana 100%.

Do lado não técnico: Eu perdi algumas ótimas oportunidades de estar com o pessoal do Brasil e deveria ter me preparado para correr mais pela cidade. Mas, foi ótimo sair para beber/conversar com os colegas de trabalho e poder sentar, beber e conversar com amigos que não via a uma longo tempo.

Espero, ansioso, pelo próximo ano.