Body image

Aviso: Esse texto falará sobre minha visão sobre meu corpo. Se você não tem interesse sobre isso, melhor pular esse post. E, se esse foi um assunto delicado para sua sanidade mental, melhor pular também. P.s.: Esse artigo conterá referência à nudez. Para os que vão parar por aqui, fique com um GIF:

Gatos tomando um sol




OK, se você ainda está por aqui, é porque pretende continuar lendo. Então, lá vamos nós:


O último post que coloquei nesse site foi sobre Assexualidade. Agora, eu venho postar algo que é relacionado a esse tema, mas não necessariamente ou diretamente: Body image. Estou usando o termo em inglês porque não sei qual é a tradução exata para esse conceito. Além disso, não quero que o foco seja o termo, focarei mais nos sentimentos que envolvem esse conceito e como isso me impactou, me impacta e ainda vai me impactar um pouco mais.

Eu tenho uma idea mental de “mim” que não corresponde ao que vejo no espelho. Me sinto assim já faz muito tempo, sempre aceitei essa ideia e continuei com minha vida. Gostaria de pontuar aqui que não é o mesmo desafio que uma pessoa transexual passa, eu aceito que sou do mesmo gênero que meu corpo apresenta. Só que as proporções e delimitações de meu corpo sempre estiveram para mim, de alguma forma, errada.

Durante adolescência e vida jovem-adulto, culpava o fato de ser muito magro. Hoje em dia, culpo o fato de estar mais gordinho e fora de forma. Nunca exatamente “certo” e tendo como único fator comum que eu nunca soube exatamente o que seria esse “certo”. Eu nunca quis ser muito forte/definido, acho que muito músculo é algo meio estranho (independente de gênero); mas ao mesmo tempo não acredito que ser fino/magro também seja o correto.

Acho importante resaltar aqui que não tenho problema algum com meu corpo no dia-a-dia, mas quando me vejo em fotos/espelho não consigo exatamente ver aquela pessoa como “eu”. Algo semelhante a quando se escuta a própria voz em gravação pela primeira vez: “Se sabe que é você, mas aquela voz soa estranha. Todas as pessoas ao seu redor podem estar acostumadas com aquela voz, e ainda assim, para você, soa estranho”.

Eu sou uma pessoa introvertida, que não vai muito em festas, e viaja sozinho. Logo, fotos minhas (ainda mais quando comecei a morar sozinho) são raridades. E por serem raridades, eu fui me “negando” a tirar fotos, ao ponto de que eu ficava bravo quando alguém tirava foto minha, ou pedia para tirar foto minha. Tal qual a introversão e fobia social, escondo durante eventos, mas sempre desconfortável e nunca querendo ver o resultado.

Eu, de pé

Essa é a pessoa com a qual não consigo aceitar que sou eu

Um fato sobre mim: Se estou em casa, sozinho, estou sempre pelado, porque acho que roupas são um tanto desconfortáveis e estar nu é mais cômodo. Então, por um breve momento, pensei que seria roupas que trazem esse questionamento a minha mente. Mas, depois de muito pensar, creio que não; uma vez que me ver no espelho, mesmo nu, ainda me incomoda (apesar de eu não dar a mínima ao fato de estar nu). E isso reforça a ideia de que não é um desconforto com meu corpo em si, porque não ligo como eu realmente aparento (quão arrumada está minha barba, ou cabelo, ou a roupa que estou usando, etc). Porque nunca quis “agradar” o olhar de ninguém, apenas vestir o que gosto, da mesma forma que eu acredito que todas as pessoas são livres para vestir o que quiserem (essa parte eu acredito que esteja mais relacionado à assexualidade).

Durante a pandemia, eu comecei a frequentar mais praias de nudismos em Barcelona e próximo a Barcelona. Por dois motivos principais: Há uma praia nudista em Sitges que tem ondas (algo que sinto falta das praias do Brasil), e porque as praias, geralmente, são mais vazias. Acredito que esse é um privilégio de ser um homem, já que há muitos pervertidos que vão a este tipo de praia para “ver mulher nua” (mais perceptíveo/comum entre turistas aqui em Barcelona) e é mais seguro para mim ir a essas praias (mas isso é uma tangente para outro dia). E essas idas às praias nudistas, novamente, levantaram esse questionamento antigo de que eu não me importo como meu corpo parece para as outras pessoas, eu não me importo em como eu vejo o corpo das outras pessoas, mas, por algum motivo, eu me importo em como eu vejo meu corpo.

Esse questionamento chegou a me tirar um pouco o sono. E, por conta disso, eu resolvi fazer um pouco de um “tratamento de choque”, tirando múltiplas selfies minhas, com celular e com uma câmera mais “profissional”. Tanto vestido, quando pelado. Para tentar fazer com que eu me acostume com a visão ou, pelo menos, consiga entender o que cria essa desconexão entre o que penso de mim e o que vejo/sou.

Image minha, sem roupa, sentado em um banco

Esse é o corpo que não ligo em mostrar, mas não consigo ver

Parte dessa terapia de choque foi criar uma conta secundária no Reddit e procurar conteúdos/subreddits de nudez não “pornográfica”, para tentar ver se eu criava uma idea do que eu entendo como “ideal” (p.s.: achar esse tipo de conteúdo de homens é complicado, 99% do conteúdo é foto de pênis). E, nos poucos subreddits que encontrei, tentei postar algumas de minhas votos para ver tem um feedback, apesar de que nessas comunidades não há quem vá te “criticar”, então não há um feedback real. Outra parte dessa terapia de choque é esse post. Colocar para as pessoas “próximas” virtualmente esse pensamento e fotos, para que minha alma consiga relaxar um pouco ao saber que algo foi dito.

É isso aí. Esse foi o pensamento da tarde.